sábado, 22 de outubro de 2011

Entre o rochedo e o mar.





Não deve ser nada confortável estar situado na rota de colisão entre duas grandes forças, assim como não é nem um pouco seguro deparar-se no meio de um fogo cruzado, no qual ser atingido por um disparo não é uma mera metáfora. Considero que o professor se encontra nesta situação, entre o rochedo e o mar, entre o descaso atávico dos nossos governos em relação à educação e o acúmulo histórico de insatisfações da população diante de serviços mal prestados, quando, por "sorte", estes estão disponíveis.
Tentando ser os mais valentes nessa luta, alguns professores apelam para estratégias de enfrentamento direcionadas aos alunos, que, assim como eles, são vítimas da ausência de políticas públicas que garantam os direitos básicos aos cidadãos. Paradoxalmente, esses modos de lidar com a agressividade e a violência dirigidas à equipe escolar - possivelmente vista como representante do governo - são também agressivos e violentos, o que só faz aumentar diariamente o risco de se adentrar a uma escola. Não causa espanto, portanto, o fato de que praticamente todos os dias possamos encontrar notícias sobre algum incidente envolvendo alunos, professores e a violência.
Creio, entretanto, que, mais do que naufragarmos entre queixas e lamentações, precisamos encontrar rotas que nos levem à transformação dessa realidade particular, e que, ao final deste percurso, possamos encontrar uma escola segura e cumprindo plenamente o seu papel de educar plenamente (achei que valia a pena a repetição). Podemos, portanto, começar por uma definição de violência, que, na minha opinião, seria o primeiro obstáculo a ser contornado.
Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), a violência caracteriza-se pelo uso intencional da força física ou do poder, real ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha a possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação. Esta definição é interessante, pois expande a idéia de violência para além da agressão física.
Não é raro que professores tentem conduzir suas aulas estabelecendo o que o professor Paulo Endo (no primeiro vídeo) chama de uma "relação de assimetria absoluta", abusando do seu suposto poder, ameaçando com reprovações, suspensões ou mesmo exclusão da unidade escolar. Em geral, estes professores não consideram a sua forma de agir como sendo violenta. Pelo contrário, acreditam que essa é a melhor maneira (senão a única) de manter a ordem necessária (na concepção deles) para a aprendizagem. Este, certamente, seria o segundo obstáculo a ser ultrapassado, em direção a uma convivência escolar pacífica.
Uma terceira barreira a ser superada (dentre as muitas nesta viagem entre a violência e a paz, mas que, por falta de espaço, não trataremos aqui), é a idéia de que a violência deve ser reprimida com ações isoladas, com cada docente cuidando solitariamente da parte que lhe cabe no latifúndio da sua sala de aula. Temos, assim, dois erros embutidos nesta forma de pensar:
O primeiro é imaginar que a melhoria da convivência em sala de aula pode ser alcançada com esforços isolados. A comunidade escolar (incluindo as famílias dos alunos) precisa se conscientizar que a violência é um problema de todos (ver o segundo vídeo) e que, educar para a convivência deve ter a mesma importância no currículo que ensinar língua materna, matemática ou ciências. Ser capaz de lidar com a gestão de conflitos, por exemplo, é um aprendizado (cada vez mais) útil para todas as etapas do desenvolvimento humano e aplicável às mais diversas situações do nosso cotidiano. A título de exemplo, podemos ver, no último vídeo postado abaixo, uma "sessão" de mediação de conflitos muito bem conduzida por um professor.
O segundo erro é querer lidar com a violência escolar, ou até mesmo com a indisciplina, apenas por meio da sua repressão mediante punição. Há muito tempo a sabedoria popular já vem alertando que é melhor prevenir que remediar. A prevenção da violência e a prevenção de comportamentos agressivos na escola, deve ser o foco de todo e qualquer programa de intervenção que vise melhorar a qualidade das interações sociais - como objetivo mais imediato - e formar cidadãos de bem, dispostos a resolver pacificificamente os conflitos interpessoais, como meta a ser atingida em um horizonte mais distante.




Resolva:

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Polícia para quem?!?! Precisa???




Costumo dizer que, nas décadas de 80 e 90, do já passado Século XX, com a expansão do ensino público, os principais parceiros da escola, para ajudar a resolver os problemas de aprendizagem que seus alunos apresentavam, eram os profissionais da área "psi": psicopedagogos e psicólogos clínicos, bem como psiquiatras e neurologistas.
Como se pode deduzir da natureza destas parcerias, a maior preocupação dos profissionais da educação era com o baixo desempenho dos alunos no quesito aprendizagem. Obviamente, este estado de coisas gerou uma série de discussões, reflexões teóricas e pesquisas empíricas (ver Cabral e Sawaya) que buscavam compreender e modificar este cenário, visando sempre a melhoria da qualidade educacional.
Nesta década que estamos encerrando, entretanto, tem havido uma nítida mudança nos problemas que afligem as comunidades escolares e nas alternativas encontradas por estas para resolvê-los. Se a escola não se encontrava preparada para lidar com as dificuldades de aprendizagem - cerne do seu trabalho -, não era de se esperar que desse conta do acelerado crescimento da violência, tanto no seu entorno quanto dentro dos seus muros.
Esse despreparo levou professores e diretores a sentirem-se mais seguros com a companhia de quem também não tem formação adequada (muito menos vocação) para lidar com a indisciplina e a violência tipicamente escolares: a polícia!
 Parece que nós, brasileiros, temos uma inclinação para atacar as consequências, enquanto as verdadeiras causas do problema ficam intactas. Agimos topicamente, remediando e punindo, quando deveríamos buscar ações preventivas e educativas, que costumam ter efeitos muito mais duradouros que as primeiras.
Assistindo ao primeiro vídeo dessa postagem, tive a impressão que o ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais da Polícia do Rio de Janeiro - BOPE - Rodrigo Pimentel, também tinha chegado à conclusão de que a violência se combate com mudanças estruturais, dentre as quais, certamente, está a educação.
Pimentel, cujo alter-ego é o capitão Nascimento, do filme Tropa de Elite, diz ter abandonado a polícia por não acreditar mais na maneira como ela lidava com o tráfico. Afirma ainda que acha que pode colaborar mais na guerra contra o tráfico, produzindo filmes, escrevendo livros, fazendo comentários e dando palestras, do que invadindo morros e trocando tiros com traficantes. 
Curiosamente, entretanto, ao se deparar com um caso de depredação escolar num estabelecimento de ensino no Rio de Janeiro, motivado, muito provavelmente, pelas condições inadequadas de funcionamento da escola, o ex-capitão Pimentel "recomenda" a interferência policial  (infelizmente o vídeo foi excluído), numa situação que é claramente "caso de educação", ou melhor, de falta dela. Quando falo em falta de educação, não me refiro apenas aos depredadores mal-educados. Refiro-me, principalmente, à educação que é negada a esses jovens. Observemos que o incidente se dá em função de NÃO haver aula naquele dia e os alunos sequer terem sido avisados. O relato do funcionário da escola é claro: falta uma estrutura mínima para que a escola funcione adequadamente. Não é comum ouvirmos relatos de depredação ou de vandalismo em escolas bem administradas e que buscam cumprir seu papel perante a sua comunidade. Não quero, com isso, dizer que a melhor maneira de protestar contra o descaso dos governos é apedrejar a escola. Não mesmo! Mas precisamos compreender que diversos seguimentos da sociedade, quando lutam pelos seus direitos, paralizando as suas atividades, por exemplo, provocam alguns danos a algumas pessoas e, ainda assim, defendemos o direito de greve.
Enquanto a nossa educação não for respeitada, profissionalizada, ficaremos à mercê de opiniões e interferências externas, tentando agradar a este ou aquele setor da sociedade, que pensa que a escola deve fazer isso ou aquilo. O caminho para a melhoria todos conhecem: formação adequada, condições de trabalho apropriadas, salários condizentes e currículo significativo! Polícia, só para quem precisa...



segunda-feira, 5 de julho de 2010

Bullying, uma violência silenciosa.


Por Elvira Pimentel
Brincadeiras de mau gosto, apelidos, gozações fazem parte do cotidiano escolar. Porém, até onde essas ações podem ser consideradas inocentes e inofensivas? Desde que haja alguém sofrendo e se sentindo impotente diante dessas práticas, podemos considerá-las como Bullying, um fenômeno mundial, que não está restrito apenas a um grupo específico de jovens de escolas públicas ou particulares, de Educação Infantil ou Ensino Médio, mas a todos os setores.
Essas práticas aparecem nas mídias e assustam pelo trágico desfeche. Como exemplo mundial têm-se o caso do estudante Cho Seung-Hiu, 23 anos, autor do massacre que resultou na morte de 32 pessoas na Universidade de Tecnologia da Virgínia, em 2007. O aluno era vítima de bullying escolar. Já no Brasil o Bullying começou a ser observado melhor, com a tragédia ocorrida em Taiúva, no estado de São Paulo, quando um jovem de 18 anos entrou atirando na escola em que concluiu o ensino médio, ferindo oito pessoas e suicidando-se em seguida. 
Os estudos sobre o Bullying tiveram início a partir da década de 70, na Noruega, pelo pesquisador Dan Olweus, a partir de uma investigação sobre a violência no âmbito escolar. A palavra é derivada do verbo inglês bully e ainda não possui tradução para o português, podendo assim ser definida como a utilização da superioridade física ou moral, para intimidar alguém. Existem diversos tipos de Bullying: direto, indireto, verbal, físico, emocional e mais atualmente o cyberbullying (em que são utilizadas as tecnologias da informação e comunicação), sendo todos eles a representação do desejo consciente e deliberado de maltratar outra pessoa e colocá-la sob tensão.
No bullying, existem os autores, os alvos e as testemunhas, sendo os alvos aqueles alunos que só sofrem bullying, os autores aqueles que só praticam, os alvos/autores são os que ora sofrem, ora praticam o bullying, e as testemunhas aqueles alunos que não sofrem nem praticam Bullying, mas convivem em um ambiente onde isso ocorre, podendo estar coniventes ou não com esta prática, já que muitas vezes alguns não denunciam por medo de serem os próximos alvos.
Cada ator desse processo pode sofrer conseqüências futuras, caso não sejam tomadas as providências necessárias para a conscientização dos mesmos em seus respectivos papéis.  Os alvos, poderão não superar, parcial ou totalmente, os traumas. Crescendo com sentimentos negativos, especialmente com baixa auto-estima, assumindo também, um comportamento agressivo.
O Bullying é um problema que não deve ser negado e sim combatido. Os alvos de bullying não expõem com facilidade o seu dilema, temem por falar e acabam silenciando a estes atos. Cabe à escola prevenir, e junto com a família, estar atenta a essas práticas, para intervir o mais rápido possível, já que é a instituição, depois da família, em que ocorrem os fatos mais expressivos com as crianças. É, portanto, um espaço que deve propiciar relações sociais que promovam atitudes morais e éticas, principalmente de respeito ao próximo. Práticas como: o esclarecimento do tema, demonstração de abertura e respeito para conversar com os alunos, adoção de políticas, projetos anti-bullying e a valorização de atitudes positivas no combate a esta prática, podem prevenir e diminuir este fenômeno nas escolas.
Alguns estados do Brasil como Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Espírito Santo, Bahia e Rio Grande do Sul, já adotaram uma política anti-bullying, regulamentada por um projeto de lei. A partir de uma análise dos projetos de lei dos referidos estados, fica claro que todos propõem uma política de incentivo ao combate ao bullying principalmente nas escolas. Não há, porém registro de penalidade legal específica para este tipo de agressão. No entanto, há no Brasil, estatutos e leis que protegem o cidadão de agressões individuais, podendo ser aí enquadrados os casos de bullying. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) guarda os direitos dos jovens, menores de 18 anos, prevendo medidas sócio–educativas, para a infração de suas disposições nos artigos 5°, 17°,18º e 53º. Os agressores maiores de 18 anos, ou responsáveis legais, podem ser enquadrados como infratores do Código Penal do Brasil no que tange aos artigos 146º e 147º.
Muito mais do que estar respaldado na punição prevista nas leis, é necessário prevenir. Mesmo que sejam punidos os agressores, os fatos ocorridos ficarão registrados na memória daqueles que sofreram, causando danos muitas vezes irreversíveis. Assim, a maneira considerada efetiva de se combater o bullying é através da cooperação de todos os envolvidos: diretores, professores, funcionários, alunos e pais. A família e a escola devem compartilhar de uma parceria em que o diálogo, a orientação, a educação e a afetividade sejam os instrumentos utilizados para desenvolver relações de respeito mútuo, tendo como foco principal as relações humanas.


Elvira Maria Portugal Pimentel Ribeiro é aluna do 5º Semestre do curso de Licenciatura em Pedagogia da UEFS e colaborou com o blog! 

sábado, 5 de junho de 2010

Aquele algo a mais...

Já chamei a atenção, neste blog, para as ações dos chamados "movimentos sociais" e como eles têm conseguido algo que a escola pública tem perdido pouco a pouco: a possibilidade de reencantar a aprendizagem. Em grande parte, o sucesso dos movimentos sociais se dá em função destes oferecerem às crianças e jovens das suas comunidades um espaço onde eles podem exercitar a escolha, a criatividade, a aprendizagem, o sucesso, a autonomia e o desenvolvimento de habilidades e a consequente auto-confiança.
Quase sempre essas ações sócio-pedagógicas realizadas por ONGs ou por voluntários, possibilitam a participação em atividades artísticas e/ou esportivas associadas às atividades escolares ordinárias (perdoem o trocadilho). Nessas outras atividades, os participantes vão experimentando o prazer de aprender, e este prazer, regido pela mudança de avaliação das próprias capacidades (sim, eu posso aprender!!!), os leva a investir com mais confiança nas aprendizagens de conteúdos escolares.
Nos dois vídeos que se seguem, veremos um exemplo de como uma escola situada em uma região com alto índice de violência transforma a sua própria realidade utilizando o jogo de xadrez como um algo a mais que vincula afetivamente os jovens à sua escola e às suas próprias possibilidades enquanto aprendiz, evidenciando ainda mais a importância da utilização de jogos de regras como situações privilegiadas de aprendizagem.



sexta-feira, 14 de maio de 2010

De "boa vontade", o inferno está cheio!

Pelo que já postei nessa página do blog, não causará surpresa saber que concordo com tudo o que o vídeo a seguir apresenta como estratégias para prevenir a violência e os consequentes fracasso e abandono escolares. Entretanto, há elementos faltantes neste especial produzido pelo Governo. É tão óbvio quanto imprescindível dizer que o professor terá dificuldades para agir de maneira preventiva, se ele não for devidamente preparado para isso. A atuação eficaz só pode ser resultado de uma formação igualmente competente. Resulta, também, de condições de trabalho, que facilitem o desempenho dos profissionais da educação. Quero, portanto, salientar, que depende muito da atuação do professor em sala de aula, a diminuição dos casos de violência, bullying, indisciplina, fracasso e evasão escolares. Mas, não depende só dele e não podemos responsabilizá-los exclusivamente pelas mazelas da nossa educação pública. Um bom trabalho, repito, requer formação apropriada, condições adequadas, remuneração justa, e não apenas boa vontade. Afinal, sabemos que, para aqueles que têm somente boa vontade, há uma ala lotada no inferno.